sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Amor eterno


"Contar uma história
é dar um presente de amor."
Lewis Carrol



Amor de avó
é amor pra vida inteira.
É o cheiro do feijão que não some
o gosto daquele pastel caseiro e bolos deliciosos
na boca da criança que não quer crescer.
Porque ser neta
é ser protegida de todos os males
é estar num colo bem quentinho
que ameniza qualquer dor.
É dormir tranquila mesmo que a tempestade
cubra a noite com seus raios e trovoadas.
Ouvindo histórias que povoarão
para sempre a memória.
Histórias que embalam a vida
mesmo quando a vilã morte leva
a avó tão querida.


Homenagem a minha vozinha Ottília a vovó Estelita e a todas as avós que com ela fazem morada no céu.

Luto




Luto


Abre o olho, vó!
Abre o olho.
E ela nada.
Imóvel sobre as flores
Como um sonho
De Morfeu virado.
Sob as pálpebras
A ultima visão:

A casa com cinco crianças
E como no tangolomango só sobraram duas.
A quebra do resguardo
As brigas de facão
Com o primo
- Também marido -
E a separação.
As duas crianças pelo mundo,
Os ossinhos na prateleira
O besouro no ouvido
E o zumbido.

Um dia vai morar com uma das crianças
E sonha
Em ter casa de novo
E sonha
Com os parentes, os antigos, de quando ajudou o soldado Elias a prender um bandido – mesmo que ninguém se lembre.
Com as historias, os causos, a menina do surrão, a onça e o bode.
Todas estas coisas estariam guardadas
Para sempre.

Abre os olhos, vó!
E as lagrimas corriam geladas como a pele da vó.
Pele de nuvem.
A professora disse do que as nuvens eram feitas
- Cristais de gelo.
E ela não abria os olhos
Estelita, como a chamavam desde o primeiro dos seus 72 anos,
Tinha ganhado o céu como previa o nome.
Não ouvia os choros, os gemidos dos parentes reunidos por sua causa.
Não ouvia nada.
- Acorda, vó! – disse em prantos,
Mas era tarde e as estrelinhas já apareciam no céu.

Dia 09/10/2009 meu amor de avó, Estelita Maria de Jesus, se uniu ao resto do próprio nome.

Por Claudia Gomes